Ele vive na beira das matas, e só pode ser avistado nas horas mais mágicas do dia: o amanhecer e o anoitecer, o que justifica sua figura mística. Conhecido como Mãe de Lua, seu canto mistura o sentimento da calmaria dos dias quentes de verão com uma misteriosa nostalgia das noites frias de inverno. Símbolo de conexão com o Divino e sabedoria ancestral, o Curiango está relacionado também à intuição – acredita-se que a ave possua a capacidade de trazer renovação espiritual e liberdade. E pode representar a necessidade de se ouvir a intuição ou a importância de se libertar de crenças limitantes. O curiango-comum habita as capoeiras abertas, os cerrados e os capões, é uma ave notívaga, por isso mesmo emblemática, cercada de histórias e lendas. Por passar a noite pelos caminhos, com olhos acesos, contando as léguas, ganhou o nome popular de mede-léguas. “É dizendo e bacurau escrevendo”, é expressão que indica a uma verdade sem sombra de dúvidas.

Dizem que o Curiango é um poderoso amuleto: que as penas de suas asas curam dor de dente e outras dores; se colocadas entre a manta e a sela, fazem com que o cavalo não caia nem que salte rio cheio. Particularmente, acho muito difícil que você consiga pegar alguma pena, porque de noite ele se esconde, e de dia ele se camufla nas folhagens. Mas como nada é impossível, Ibijau, Mede-léguas, Acurana e A-ku-kú (Mato Grosso); Coriavo, Engole-vento (Pernambuco); Curiango Ju-jau, Amanhã-eu-vou (Minas Gerais): a moça, com medo das abelhas, saiu correndo e, na correria, Curiango arrancou-lhe o véu. Mas o que viu o deixou tão aterrorizado, que começou a fugir da mulher, assustado. A moça gritava: “Curiango”! E ele respondia: “amanhã eu vou, amanhã eu vou!” E dizem que está correndo até hoje...