Um pedacinho de terra perdido no mar...


Difícil encontrar palavras para descrever Florianópolis, mas esta, talvez, possa traduzir: fascinante. Assim como o Estado de Santa Catarina, Floripa é multifacetada, dona de um patrimônio natural-cultural-artístico-arquitetônico-religioso-gastronômico- istórico...ufa!, sem precedentes. Tem um ecossistema que contempla mar, rios, montanhas, dunas, restingas, mangues e pequenas ilhas, uma riqueza biológica de importância incomensurável. Como bem diz a letra do hino, “jamais a natureza, reuniu tanta beleza!” Segunda cidade brasileira com maior número de startups, atrás apenas de São Paulo, o perfil inovador e empreendedor da capital de Santa Catarina pode ser explicado pela presença de um pólo tecnológico consolidado, e que a situa entre os três principais ecossistemas – desta vez, em inovação - do Brasil.

A Ilha da Magia, como tornou-se conhecida, é presenteada com uma geografia extraordinária, de natureza exuberante e paisagens de tirar o fôlego, que se espalham por seus quase 437 km² de praias paradisíacas, trilhas em meio à Mata Atlântica, casario colonial, sítios arqueológicos, boates concorridas, hotéis maravilhosos e restaurantes estrelados. Colonizada por imigrantes açorianos, a capital mantém, em seus povoados, as manifestações culturais e religiosas trazidas pelos portugueses, como no Ribeirão da Ilha e em Santo Antônio de Lisboa, que preservam sua herança na arquitetura, no artesanato em cerâmica e renda e na culinária, à base de ostras produzidas na região.

Passado x Presente


Cartões-postais, a Ponte Hercílio Luz, as fortalezas que cercam o território e as vilas açorianas de Santo Antônio de Lisboa e Ribeirão da Ilha, além das construções do Centro Histórico e a Praça XV de Novembro, com sua figueira centenária, remetem ao passado de Floripa – desde os tempos em que a ilha era chamada de Vila de Nossa Senhora do Desterro, no século 18. A beleza desses resquícios, hoje – que inclui, entre muitos muitos,

a Catedral Metropolitana e a bela Avenida Beira Mar Norte - divide as atenções com shoppings, prédios e até congestionamentos dignos de uma grande metrópole. Uma dica para aproveitar melhor a cidade: escolha bem o endereço onde se hospedar, as distâncias são longas e os bairros têm perfis diversos de público.

Uma centena de praias


Com uma configuração urbana inusitada, a cidade é dividida entre o continente e a ilha – com pelo menos 42 praias para todos os gostos. Um levantamento feito pelo pesquisador Nereu do Vale Pereira, uma das referências intelectuais mais importantes de Santa Catarina desde a década de 1950, dá conta de que existem pelo menos 100 praias, contando as que são formadas em lagoas e em outras 31 pequenas ilhas que integram o município, como a de Ratones. Para Pereira, praias são "todo debruçar de mar, rios e lagos, seja sobre areia, terra, pedra ou capim", com delimitações naturais, como recortes ou elevações da parte terrestre.

Todas as encontradas pelo professor, no município, estão elencadas no livro Descortinando as 100 belas praias de Florianópolis. Nascido no Ribeirão da Ilha, o professor, que em setembro próximo completará 91 anos, conhece a Capital como "as próprias unhas", e considera que, depois do minucioso estudo, o conhecido número de 42 praias ficou, definitivamente, ultrapassado; “as pessoas podem não ter ido a todas elas, mas que as 100 existem, existem — garante Nereu, típico ‘manezinho’ - como é carinhosamente chamado o morador da Ilha.

Agito e tranquilidade nas praias do Leste


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As praias mais conhecidas espalham-se pelas diversas regiões de Floripa. No Leste, a Mole e Joaquina, a aproximadamente 20km do centro da cidade, são as principais. A Mole é a mais transada, onde os praticantes de surf e parapente se encontram, ponto de encontro que reúne música e muita gente bonita, principalmente no “Barraco da Mole”, barzinho de praia descolado e que de barraco, só tem o nome. No verão sempre tem DJ, e não raro esbarramos com artistas e outros famosos curtindo o sol se por regado a espumante e muita azaração. A vizinha Galheta, tem beleza natural formada por uma extensa faixa de areia fina e águas calmas e rasas, e, até poucos anos, era frequentada pelos adeptos do nudismo – hoje, uma polêmica a esse respeito vem dividindo opiniões.

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A praia da Joaquina, ou "Joaca", como é chamada, ganhou fama na década de 70, quando suas ondas fortes foram descobertas pelos surfistas. De lá pra cá, tornou-se cenário de campeonatos nacionais e internacionais. Ainda no Leste tem a Barra da Lagoa, urbanizada e repleta de bares e restaurantes mais populares, e a Moçambique, maior praia da ilha, com 7,5km de extensão, areias claras e macias, quase desertas. Faz parte do Parque Florestal do Rio Vermelho, o que a torna bastante selvagem, sem qualquer tipo de construção. As águas geladas não atraem os turistas, sendo uma boa opção para quem busca tranquilidade no verão.

Norte e Sul: tradição e rusticidade


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No litoral Norte, a praia de Jurerê atrai jovens dia e noite, e, juntamente com a vizinha praia da Daniela, é muito indicada para crianças. Tem ainda as praias dos Ingleses – que a exemplo de Canavieiras transformou-se no reduto dos argentinos - Brava, Santinho - extensa e com vegetação de Mata Atlântica, Lagoinha e Cachoeira de Bom Jesus, além de Sambaqui, Santo Antonio de Lisboa e Cacupé, essas três últimas misturam a modernidade e o turismo com as tradições dos moradores nativos, que vivem da pesca artesanal e do cultivo de ostras. Destaque para as fachadas das casas de pescadores voltadas para a estrada e de costas para a vista do mar. Por ali não se veem guarda-sóis, ambulantes ou pessoas passando o dia se bronzeando. É um local mais reservado, que atrai pelos agradáveis passeios pela orla, pela bela vista da Avenida Beira-mar Norte e das pontes, pela tranquilidade e pela gastronomia.

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As praias do Sul são as mais rústicas e têm como um de seus carões-postais a intocada Lagoinha do Leste, além do Pântano do Sul – onde fica uma das mais importantes colônias de pescadores da ilha e repleta de bares e restaurantes especializados em frutos do mar - Morro das Pedras, Armação - com ares de aldeia, é um dos principais núcleos de pesca artesanal da ilha - Matadeiro e outras como a Solidão, no extremo sul. A praia do Ribeirão da Ilha abriga uma vila de pescadores que ainda preserva a arquitetura açoriana. O cultivo de ostras é comum na região.

Praia do Campeche na Ilha do Campeche


Outra praia importante do litoral Sul é a do Campeche, usada por Saint-Exupéry como ponto de parada para os pilotos do Aero Postale, correio francês, que tinha Florianópolis na rota de entregas de correspondências entre Paris e Buenos Aires, na Argentina. A região do Campeche o homenageou dando à principal rua o nome de Pequeno Príncipe, principal obra do escritor. Hoje, o bairro é considerado um dos melhores para se viver, e loteamentos como o Novo Campeche se destaca na Costa Leste de Florianópolis. Com poucas – mas urbanizadas – ruas, e praticamente na beira da paradisíaca praia, reúne casas e de alto padrão. Ainda no Campeche, a turma da malhação marca presença na área chamada de Riozinho,

onde é comum a prática de frescobol e kitesurf. Dali, partem barcos pequenos para passeios. Um deles para a Ilha do Campeche, única ilha do país tombada como Patrimônio Arqueológico e Paisagístico Nacional, que abriga praias de águas transparentes. A maior riqueza, porém, são as dezenas de inscrições rupestres protegidas em sítios arqueológicos e acessíveis por trilhas com acompanhamento de guias. A melhor maneira de chegar à ilha é através dos barcos de pescadores que saem do Campeche e da praia de Armação, também ao Sul. No verão, escunas partem da Barra da Lagoa (Leste). Não esqueça a máscara e o snorkel para nadar em meio aos peixes.

Lagoa da Conceição: um estado de espírito


Se quem bebe da água de Floripa sempre volta, quem bebe da água da Lagoa da Conceição então, simplesmente nem sai de lá. O bairro queridinho da capital é também o mais charmoso. É certo que já teve o seu apogeu, quando a Henrique Veras do Nascimento, sua principal rua, era ladeada por restaurantes e barzinhos de ponta a ponta. Mas a crise econômica afetou bastante o comércio local, muitos empreendimentos fecharam as portas. No entanto, outros conseguiram vencer. Sobreviveram. E se por um lado alguns acharam ruim, por outro, há quem defenda o contrário, uma vez que o agito incomodava os moradores mais próximos. A Lagoa está, sim, mais silenciosa à noite. Mas o charme é exatamente o mesmo: irresistível. Porque ele está no ar,

é inerente ao bairro, faz parte da história, da cultura e da qualidade de vida de quem escolheu viver ali. Mais que um bairro, a Lagoa da Conceição é um estado de espírito. Poucos lugares despertam os sentidos e afloram o melhor da nossa sensibilidade, como a Lagoa. Nos finais de semana, é uma delícia comprar artesanato e alimentos orgânicos na feira hippie, ir no Lagoa Shopping, ver as novidades das lojas do centrinho como a Mormaii – a cara de Floripa - passear de barco, tomar uma cervejinha gelada no trapiche, almoçar nas Rendeiras, enfim, experimentar – e viver – a atmosfera única, que só a Lagoa da Conceição oferece.

Costa da Lagoa: praça de alimentação a céu aberto


Às margens da Lagoa da Conceição, a Costa da Lagoa é uma antiga vila de pescadores que permanece numa parte mais isolada da ilha. O acesso só é possível via barco ou trilha, carro não chega. O percurso de barco dura uma média de 40 a 50 minutos, dependendo do número de paradas que ele faz ao longo do caminho, já que ele leva turistas e também moradores, que só conseguem chegar em suas casas de barco. Além de servir de moradia para muitas famílias, a Costa é um dos principais atrativos

turísticos de Florianópolis, um passeio imperdível que reúne história, cultura, natureza, e paisagem de cinema. Lá chegando, vale a pena conhecer a vila, que é uma graça, com sua igrejinha singela e lojas de artesanato, além da cachoeira da Costa da Lagoa, que tem uma água gelada, ideal para se refrescar nos dias mais quentes. Só o trajeto, em meio a uma natureza muito bonita, já vale o passeio.

Cabral, Lagoa Azul e Cachoeira


Famosa pela culinária, a Costa da Lagoa reúne uma diversidade incrível de restaurantes sobre palafitas, uma verdadeira “Praça de Alimentação a Céu Aberto”, paradores por onde o barco vai passando, e você pede para ele lhe deixar. Neste cenário, que alia gastronomia de primeiríssima qualidade e visual paradisíaco, é possível encontrar excelentes restaurantes, um deles é o Cabral da Costa da Lagoa, no PARADOR 19. O restaurante – considerado, por muitos, uma joia gastronômica da Ilha, além de servir algumas das melhores ostras da região também é apoiador da causa socioambiental. Destaco também dois, dos melhores restaurantes locais, e que eu conheço bem, por isso mesmo recomendo: Restaurante Cachoeira, do Robson – PARADOR 16 - e o Restaurante Lagoa Azul, administrado pelo Tiago - PARADOR 17. Ambos filhos do Renovato e da Rosinha, tradição passada de pai para filho.

Renovato (conhecido por “Lagoa”) e Rosinha, são pioneiros na Costa, e famosos pela comida de qualidade que sempre serviram – e hoje os filhos continuam – sempre com ingredientes frescos, e frutos do mar saídos das águas da Lagoa, que já naquele local encontram as do mar. Destaque para os pastéis de camarão, além de peixes, ostras e a famosa Sequência de camarão, onde é possível experimentar toda sorte de pratos feitos com o marisco. Não deixe de pedir a anchova ou o robalo grelhados, acompanhados pelo pirão de peixe. Uma festa em e para todos os sentidos! O Restaurante Lagoa Azul recebeu o Certificado de Excelência pela Trip Advisor, e foi matéria na VEJA SC. O Restaurante Cachoeira ganhou o prêmio “Garfo de Ouro” e matéria no Guia Quatro Rodas.

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Fátima Vianna

Jornalista e Chief Communication Officer